A violência oculta na sola do chinelo: punição corporal, violência intrafamiliar e os modelos de autoridade em São Paulo, Brasil

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Renan Theodoro

Resumo:

Violências intrafamiliares e castigos físicos são maus-tratos prevalentes no Brasil. Essas duas formas de maus-tratos são abordadas pela literatura de forma independente, com pouca ênfase na relação desses fenômenos com os modos como a autoridade familiar é exercida. Este estudo explora a relação entre violência intrafamiliar, punição corporal e autoridade familiar. Os dados são do Estudo da Socialização Legal em São Paulo, que, em 2016, entrevistou 800 crianças de 11 anos. As variáveis incluem regras da casa, consequências aplicadas pelo pais quando os participantes não cumprem as regras, percepção da justeza dos procedimentos adotados dos pais e convivência com violência intrafamiliar. Empregaram-se análise de correspondência múltipla e agrupamento hierárquico com base em componentes principais para identificar modos de autoridade familiar. Os resultados indicam três perfis: o cluster 1 representa relações não violentas e poucas regras impostas pela autoridade familiar, predominante em famílias de classe média; o cluster 2 caracteriza-se por punições não físicas e a adoção de procedimentos justos por parte das autoridades; o cluster 3 revela relações familiares violentas, com punições físicas e alta incidência de violência intrafamiliar, com representação significativa em famílias de baixa renda. Os resultados indicam que o castigo físico não é contingencial, mas uma prática comum em grupos familiares em que outras formas de violência intrafamiliar também estão presentes. Os achados contribuem para o refinamento de políticas públicas de enfrentamento à violência, bem como podem auxiliar profissionais na identificação de maus-tratos contra crianças e adolescentes.

Palavras-chave:
Maus-Tratos; Poder Familiar; Punição; Adolescente; Violência