Arranjos tecnológicos de gestão do cuidado em saúde: desafios para o hospital contemporâneo.
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Resumo:
O objetivo foi analisar arranjos tecnológicos na gestão do cuidado e de leitos em um hospital público de referência em Portugal. Arranjos tecnológicos combinam tecnologias e práticas de gestão para maior efetividade em contextos organizacionais complexos. São utilizados para enfrentar desafios como demanda excessiva, aumento de custos e queixas sobre qualidade do cuidado. Sua aplicação em distintos contextos têm produzido diferentes resultados e faltam estudos sobre seus impactos nas relações interprofissionais e na conexão entre hospitais e redes de serviços. Realizou-se estudo de caso qualitativo e etnográfico, envolvendo 15 entrevistas com 22 gerentes e trabalhadores e observação participante de três arranjos tecnológicos: o Serviço de Apoio à Gestão do Internamento, o Meeting das 11 Horas do Serviço de Medicina e o Grupo de Resolução High Users. Foram descritos arranjos tecnológicos para gestão de entrada (input), cuidado (throughput) e altas hospitalares (output). A observação em profundidade destacou a dinâmica, o potencial e os desafios dos arranjos tecnológicos para integrar uma gestão de leitos e altas. Quando bem implementados, os arranjos tecnológicos ajudam a enfrentar a superlotação hospitalar, mas não resolvem problemas sistêmicos de alta e continuidade de cuidado em rede. Evidenciou-se a forte adesão dos trabalhadores aos arranjos tecnológicos, com destaque ao protagonismo da enfermagem e o silêncio dos médicos, sugerindo novos desafios de autonomia e poder. Os arranjos tecnológicos demonstram efetividade na gestão de leitos e cuidado, alteram práticas multiprofissionais, e relações interprofissionais, além de afetar a rede de serviços externos. A produção do hospital contemporâneo requer arranjos tecnológicos baseados em evidências, que aumentem sua eficiência, sustentabilidade e capacidades técnica e organizacional.