“Quando o país depende inteiramente dos parceiros, as coisas tendem a não dar certo”: iniciativas globais de saúde e HIV/aids em Guiné-Bissau
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Resumo:
O objetivo deste estudo foi compreender a participação das iniciativas globais de saúde (IGS) no enfrentamento da epidemia de HIV/aids em Guiné-Bissau, a partir de distintos atores sociais e políticos, representantes das IGSs, do governo guineense e das organizações da sociedade civil. Foi realizado um estudo de caso de abordagem qualitativa, do tipo descritivo exploratório, que utilizou entrevista semiestruturada com 36 participantes. Empregou-se técnica de análise de conteúdo temática. Os relatos dos participantes foram organizados e apresentados a partir de quatro categorias temáticas. Os resultados indicam que, na resposta ao HIV/aids, além do governo, identificou-se pelo menos 15 instituições não governamentais e uma forte parceria com o Brasil. As limitações e desafios do governo estão relacionados à captação de financiamento e gerenciamento dos recursos proveniente das IGSs. As contribuições das IGSs foram descritas como positivas, pois há um desfinanciamento interno e dependência externa onde o Fundo Global se confirma como o principal financiador das ações de resposta ao HIV/aids. Essa dependência interfere na autonomia da gestão e afeta a coordenação. A realidade da Guiné-Bissau se assemelha a vários países da África Subsaariana onde a atuação das IGSs é caracterizada por um paradoxo: a dependência dos recursos financeiros e a necessidade de se descolonizar da ajuda externa que, de certa forma, atua como um dispositivo disciplinador. Os achados evidenciam a necessidade do país de adotar as características de um Estado estável, seguro e com medidas que instigam sua autonomia e independência da colonialidade.