“Não tem vaga, só se conhecer alguém”: percepção do acesso à saúde por mulheres congolesas residentes no Rio de Janeiro, Brasil
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Resumo:
Dados sobre a saúde da mulher negra e sua presença como tema em periódicos nacionais ainda são escassos, principalmente se considerarmos o quão frequente é seu uso da rede de atenção primária e do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste artigo, partimos de uma ótica interseccional sobre as categorias de gênero, raça, classe e nacionalidade, interligadas ao conceito de “capital social”, para analisar percepções dos serviços de saúde por mulheres congolesas residentes no Rio de Janeiro, Brasil, no ano de 2018. Trata-se de estudo qualitativo, composto por observação participante e oito entrevistas semiestruturadas, em uma instituição de acolhimento a refugiados, a Cáritas RJ. As narrativas apresentadas por essas mulheres expõem o impacto da violência cotidiana em suas experiências ao chegarem ao Brasil em busca de abrigo. Desconfiança, limitações com a língua e a falta de conhecimento contribuem para a carência de capital social e inacessibilidade dos serviços. Destacamos que as mulheres negras compõem um grupo grande de usuárias do SUS e, portanto, contar com sua participação ativa pode impactar suas experiências com esses serviços. Nesse sentido, ter espaços para a escuta de grupos vulneráveis, como o de congolesas refugiadas, é mais uma estratégia a fim de promover equidade e o acesso universal à saúde para todos.