Epidemia (“romé”) de sarampo entre os Hitnü (Arauca, Colômbia, 1964): uma história a partir da etnografia
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Resumo:
Este artigo descreve a epidemia de sarampo de 1964 entre o povo Hitnü de Arauca, Colômbia, a partir da perspectiva dos próprios povos indígenas. Para tanto, foi realizado um estudo de Antropologia Histórica utilizando diários de campo de duas abordagens etnográficas (1976-1982 e 2023-2024). Os dados coletados durante aproximadamente 50 anos provêm dos sobreviventes da epidemia, e os registros mais recentes são de indígenas Hitnü mais velhos, que conheciam os fatos pela tradição oral de seus pais. Os resultados mostram que o povo Hitnü reconhece as características do que constitui uma epidemia (“romé”) de sarampo. Além disso, são levantadas questões de natureza simbólica que acompanham as explicações sobre a epidemia, e argumenta-se que suas interpretações foram influenciadas pelo contexto histórico e sociopolítico da época, caracterizado por lutas entre indígenas e não indígenas. Essa experiência mostra o valor da Etnografia para reconstruir fatos relacionados a epidemias e explorar emergências de saúde na perspectiva das pessoas afetadas e relatadas pelos etnógrafos, distanciados das frequentes narrativas hegemônicas, que reforçam desigualdades, deslegitimando ou ignorando não apenas o conhecimento e as capacidades de resolução dos indígenas em relação a esse tipo de evento, mas também suas interpretações, que como no caso dos Hitnü e de outros grupos da América do Sul estão vinculadas à relação que estabeleceram com os não indígenas ao longo do tempo.