Cadernos de Saúde Pública
ISSN 1678-4464
34 nº.9
Rio de Janeiro, Setembro 2018
EDITORIAL
O grande desafio para a publicação científica
Marilia Sá Carvalho, Luciana Dias de Lima, Cláudia Medina Coeli
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00161818
As Editoras de CSP foram convidadas a participar da mesa redonda A Quem Serve a Publicação Científica em Saúde Coletiva/Saúde Pública? no Abrascão 2018 (Material Suplementar; http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/public_site/arquivo/material-suplementar-abrascao_4283.pdf). O desafio apresentado por Kenneth Camargo Jr., coordenador da mesa, foi: “discutir de forma crítica o objetivo da publicação em nossa área, especialmente frente à perene pressão do ‘publish or perish', (...) e que nesse sentido temos um impacto profundo na sociedade, que vai muito além de meras medidas de citação”.
Recuperamos então nossa história procurando mostrar a relevância da publicação científica para além dos índices de impacto. Os princípios, diversas vezes reafirmados por todos os Editores-chefes de CSP desde o primeiro fascículo, foram muito bem definidos por Ênio Candotti 1 (p. 2), em 2016: “fazer ciência para ‘aliviar a fadiga humana' (...) promover justiça social (...) ficar do lado dos movimentos sociais...”. E colocamos essa proposta em prática, em diferentes espaços do CSP: Debates, Perspectivas e Espaços Temáticos.
Desde 2014 foram quatro grandes debates, o último publicado em julho de 2018, trazendo o tema de uma das grandes mesas do próprio Abrascão, Trinta Anos de SUS: Uma Transição Necessária, Mas Insuficiente2. Também nos orgulhamos de ter publicado um sobre a pós-graduação no Brasil 3, que contribuiu para a avaliação dos programas em 2014, avaliação esta que concluiu com uma afirmação sobre o esgotamento do modelo quantitativista, que remete ao tema desta mesa.
Os artigos das seções Perspectivas e Espaço Temático foram variadíssimos, e damos aqui apenas alguns exemplos recentes: a PL do veneno 4, legalização da maconha 5, conflito de interesses em nutrição 6, a questão dos refugiados 7,8,9, a volta dos anorexígenos 10, entre muitos outros. No campo da política e da política de saúde debatemos a terceirização e seus impactos na saúde 11,12, a segurança pública 13, a privatização do saneamento básico 14, a privatização do sistema de saúde brasileiro 15. Também abordamos temas do cenário internacional, do modelo americano da assistência à saúde movida pelo mercado 16 à destruição proposital do sistema de saúde do Reino Unido 17. Mostramos a evolução dos temas entre 2014 e julho de 2018 nas figuras apresentadas no Material Suplementar (http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/public_site/arquivo/material-suplementar-abrascao_4283.pdf), utilizando uma classificação aproximada, apenas para dar uma visão geral da nossa intenção de contribuir para a sociedade, “muito além de meras medidas de citação”.
Não podemos também deixar de refletir sobre a internacionalização da ciência, certamente muito desejável. Mas mais uma vez se coloca a questão: “internacionalizar para quê? (...) para quem? Em que direção?” 18 (p. 1585). Se pensamos em fator de impacto, a resposta é óbvia: internacionalizar é ser lido e citado por autores de países desenvolvidos, especialmente de língua inglesa, que publicam em revistas de alto impacto, uma rede que se cria e se conforma em citações recebidas e oferecidas. Se, entretanto, pensamos no fortalecimento de redes de pesquisa e, consequentemente de publicação, voltadas para enfrentar os problemas que temos em comum, inclusive o da subordinação científico-tecnológica, queremos ter nossos olhos voltados para os países ibero-americanos, para a África e outras regiões em desenvolvimento. Nossa opção nesse sentido não necessariamente aumentará índices bibliométricos, mas contribuirá para o desenvolvimento de uma ciência soberana, integrada e solidária.
E, sempre é bom lembrar, que em CSP todas as formas de comunicar são cuidadosamente pensadas. Nosso tema das fotos de 2018 é “abraçando a diversidade”. Temos muitos projetos e muito trabalho pela frente. Avançar na divulgação científica é talvez, neste momento, um dos mais relevantes. E mais uma vez, neste Abrascão reafirmamos: a democracia é saúde!
Referências
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