Cadernos de Saúde Pública
ISSN 1678-4464
34 nº.5
Rio de Janeiro, Maio 2018
COMUNICAÇÃO BREVE
Prevalência de vacinação contra gripe nas populações adulta e idosa com doença respiratória pulmonar crônica
Aldiane Gomes de Macedo Bacurau, Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00194717
Vacinação; Influenza Humana; Doenças Respiratórias; Adulto; Idoso
Introdução
A infecção pelo vírus influenza frequentemente causa complicações e a mais comum é a pneumonia (primária ou secundária) que comumente leva à hospitalização e ao óbito. Além disso, causa a exacerbação de doenças crônicas (doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC, cardiopatias e outras doenças com repercussão sistêmica) 1. O vírus influenza está entre os vírus respiratórios mais prevalentes nos casos de agravamento de DPOC 2.
A vacinação é considerada uma das formas mais eficazes de prevenir a influenza e suas complicações 3. No Brasil, as campanhas anuais de vacinação são realizadas desde 1999 e vêm contribuindo para a prevenção da gripe sazonal na população, com reflexos positivos na redução das complicações, hospitalizações, gastos com medicamentos e mortes evitáveis 1,4. Em populações adultas não vacinadas a maioria das complicações e mortes ocorre em indivíduos com doenças de base, e os óbitos por influenza sazonal na população não vacinada são principalmente registrados em idosos 4.
O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) 3 e o Ministério da Saúde 1 recomendam a vacinação anual contra influenza em pessoas com risco elevado para complicações da doença, e para aqueles que convivem ou cuidam destas pessoas. Dentre os grupos prioritários com recomendação formal para a vacinação estão os idosos (≥ 60 anos) e indivíduos com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Nos portadores de DCNT, destaca-se a recomendação para aqueles acometidos por doenças respiratórias crônicas (asma, DPOC, bronquiectasia, hipertensão arterial pulmonar, entre outras) 1,3,4.
Os benefícios da vacinação entre idosos e portadores de doenças crônicas têm sido reportados nas últimas décadas 3 e muitos estudos mostram a importância da vacina na prevenção de formas graves da influenza, pneumonias e na redução de óbitos em grupos de alto risco para complicações 5,6,7,8,9,10. Mas, apesar das recomendações nacional e internacional para a vacinação desses grupos, estudos internacionais indicam que as taxas de vacinação em pacientes com doenças respiratórias crônicas são baixas 10,11,12,13.
Levantamentos sobre coberturas vacinais em adultos e idosos brasileiros com doença respiratória pulmonar crônica (DRPC) revelam que os dados são escassos e a prevalência de vacinação neste subgrupo específico ainda é pouco dimensionada. O objetivo desta breve comunicação foi verificar a prevalência de vacinação contra gripe nas populações adulta e idosa com DRPC.
Métodos
Neste estudo foram utilizados dados de domínio público de adultos brasileiros (20-59 anos; n = 23.329) e idosos (≥ 60 anos; n = 9.019) da Pesquisa Nacional de Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM), realizada entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014, disponíveis na página de Internet: Resultados
A média de idades da população (≥ 20 anos) foi de 44,0 anos (IC95%: 43,4-44,6) e a prevalência de DRPC foi de 3% (IC95%: 2,7-3,3). Dentre esses, 42,1% (IC95%: 37,2-47,1) referiram vacinação contra gripe.
Cerca de 50% dos indivíduos residiam na Região Sudeste, a maioria era mulheres, indivíduos com companheiro, que tinham escolaridade ≤ 8 anos de estudos e sem plano de saúde. Nos adultos com DRPC, verificou-se diferença estatisticamente significativa nas prevalências de vacinação em relação à situação conjugal (p < 0,05). Para os idosos, foi observada diferença na Região Sul em relação ao Nordeste (p < 0,05)
Tabela 1 Distribuição da população com doença respiratória pulmonar crônica e prevalência de vacinação contra gripe, segundo características sociodemográficas. Brasil, 2014.
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A distribuição da população de acordo com ao menos uma DRPC (asma, bronquite, enfisema ou outra doença pulmonar) e o percentual de vacinados são apresentados na
Tabela 2 Distribuição da população de acordo com ao menos uma das doenças respiratórias específicas referidas e percentual de vacinados contra gripe. Brasil, 2014.
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Discussão
Neste estudo, as prevalências de vacinação contra gripe em adultos e idosos portadores de DRPC foram baixas. O Ministério da Saúde divulgou que em 2013 foram administradas 7,3 milhões de doses da vacina no grupo “comorbidades”, e a maioria das doses foi aplicada em pessoas com doença respiratória crônica (cerca de 3,7 milhões) 1. Em 2016, esse número foi para 9,4 milhões de doses (48% no subgrupo “doenças respiratórias crônicas”) 4.
Não estão disponíveis informações sobre a prevalência de vacinação contra influenza em grupos específicos de comorbidades no Brasil. No entanto, estudos internacionais indicam baixa prevalência de vacinação em pessoas com doenças respiratórias crônicas 10,11,12,13. No Canadá, observou-se baixa prevalência de vacinação contra gripe em indivíduos com asma (36,3%) e com DPOC (47,9%), e o principal motivo para a não vacinação foi considerar a vacina desnecessária 11. Na Polônia, além da baixa taxa de vacinação em pacientes com doenças pulmonares (58%), a barreira mais importante foi a falta de recomendação pelos profissionais de saúde 13.
Diversos fatores podem influenciar a baixa prevalência de vacinação em portadores de doenças respiratórias crônicas. Vozoris & Lougheed 11 apontaram que os grupos etários mais jovens, os fumantes e indivíduos sem acesso a médicos de família eram menos propensos à vacinação. Na Espanha, verificou-se que a idade elevada, pior percepção de saúde, presença de comorbidades e situação conjugal (com companheiro) relacionaram-se à vacinação 12.
As diferenças observadas nas regiões Sul e Nordeste podem ser parcialmente explicadas pela prevalência das doenças, acesso aos serviços de saúde, coberturas vacinais e recomendação de médico/profissionais de saúde, entre outros. Os mais longevos com doenças crônicas podem ser mais propensos à vacinação devido à recomendação global da vacina para os idosos 12. Estudos sobre os motivos da baixa adesão entre os indivíduos com DRPC ainda são escassos no Brasil, bem como a relação entre algumas variáveis e a vacinação.
Nesse sentido, torna-se necessária a compreensão dos motivos pelos quais são baixas as coberturas observadas nesse subgrupo específico, a fim de desenvolver estratégias específicas para essa população. A disseminação de informações sobre a influenza, a importância da vacinação e a recomendação da vacina pelos profissionais de saúde, especialmente para os portadores de doenças respiratórias crônicas, são estratégias que podem contribuir para o aumento da vacinação.
Quanto às limitações, deve-se considerar aquelas reportadas por Mengue et al. 14, e inerentes aos inquéritos domiciliares como a abordagem de múltiplos temas e, neste estudo particularmente, a utilização de medidas autorreferidas e restritas aos casos de pessoas com DRPC diagnosticada por algum médico, que pode ser influenciada pela falta de acesso a serviços de saúde/diagnóstico.
Conclusão
Considerando-se as enfermidades específicas analisadas e que, tanto os indivíduos portadores de DRPC quanto os idosos (≥ 60 anos), são grupos prioritários para a imunização anual contra gripe; os achados indicaram baixa prevalência de vacinação e a necessidade de ações estratégicas para melhorar a adesão neste subgrupo populacional.
Referências
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